ALEXANDER LURIA (1) – A BASE BIOSSOCIAL DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS
Para contextualizar o trabalho de Luria, precisamos posicionar seu pensamento em relação à complexidade étnica, linguística e geográfica da Rússia pós-revolução, e relacionar a sua produção a de Vygotsky que abraça o materialismo dialético. O materialismo dialético considera a história como o agente determinante do pensamento humano e da criação intelectual, ou seja, tudo o que pensamos e criamos está em estreita relação com as condições oferecidas pelo momento histórico em que vivemos.
Partindo dessa compreensão, Luria foca nos espaços habitados pelas pessoas durante determinado período de tempo, e em como as condições sócio-históricas implicadas nesses espaços formatam as formas pelas quais essas pessoas pensam, crescem e se desenvolvem, transformando esses espaços e a si mesmas, dadas as oportunidades em termos de linguagem, valores e ambiente cultural.
Ao longo de sua carreira como pesquisador, Luria relacionou o desenvolvimento e funcionamento dos processos mentais humanos com o mundo externo, ou seja, a sociedade e a cultura. Seu foco é, basicamente, a investigação de como a atividade mental transforma o indivíduo e o seu entorno no contexto das relações dinâmicas entre mente e cultura. Os estudos de Luria são importantes tanto no contexto da Psicologia quanto na Pedagogia; do ponto de vista educacional, é importante compreender como mudanças históricas no ambiente físico e cultural determinam o que é considerado importante no currículo escolar. Por exemplo, há enormes diferenças entre o tipo de conhecimento que era necessário para a vida em uma sociedade colonial e aquilo que é necessário conhecer para se viver nas grandes sociedades contemporâneas. Historicamente, a natureza do trabalho e das habilidades de sobrevivência mudam dramaticamente entre um contexto e outro, repercutindo fortemente nas formas pelas quais pensamos a educação.
A linguagem, por exemplo, transforma-se enormemente na medida em que mudanças sociais e culturais se desenrolam. Em uma era de tecnologias digitais, como a nossa, novas linguagens (textuais, visuais, auditivas) surgem e disseminam-se de forma muito mais rápida e intensa do que em épocas anteriores nas quais existiam numerosos filtros que determinavam o alcance de certos fenômenos culturalmente implicados como os da linguagem.
Note que na medida em que sociedades e culturas se modificam, novos espaços e fenômenos começam a demandar atenção. As salas de aula são ambientes sociais nos quais essas mudanças também se processam, e as transformações dinâmicas que emergem no âmbito das relações entre inteligência e cultura determinam as novas e variadas formas pelas quais nos relacionamos com questões envolvendo gênero, classe social e etnia, por exemplo. Nos próximos vídeos e textos abordaremos um pouco mais as implicações educacionais dos estudos realizados por Luria.
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Obras recomendadas:
“The Praeger Handbook of Education and Psychology” de Joel Kincheloe e Raymond Horn Jr.
“Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico” de Marta Kohl de Oliveira.
“Neuropsicologia” de Patrick Ramon S. Coquerel.
“The Working Brain: An Introduction to Neuropsychology” de Alexander Luria.
“Teoria do Sistema Funcional” de Leandro Kruszielski. Disponível aqui.